terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Livros: O começo de grandes livros


Como diria o grande Oscar Wilde, "só os tolos não se deixam guiar pela primeira impressão", com os livros acontece o mesmo. Um livro tem que ter um começo interessante, uma frase, parágrafo que nos cative para que, movidos pela curiosidade continuemos cada vez mais, até chegarmos ao fim da história. Abaixo seguem as primeiras palavras de alguns livros que me fizeram chegar ao final deles, e, também me fizeram retornar à leitura algumas tantas vezes, outras vezes pegar a obra para ler um ou outro trecho e, ainda, usar essas obras como exemplos em sala de aula para explicar algum momento histórico presente nessas obras.
Ainda virão outros inícios, por hora, esses bastam...

Lolita – Vladmir Nabokov – 1955


Lolita, luz de minha vida, fogo de meus flancos. Meu pecado, minha alma. Lolita: a ponta da língua fazendo uma viagem de três passos pelo céu da boca, a fim de bater de leve, no terceiro de encontro aos dentes. Lo. Li. Ta.
Era Lo, apenas Lo pela manhã, com suas meias curtas e seu metro e quarenta e oito centímetros de altura. Era Lola em seus slackes. Era dolly na escola. Era Dolores quando assinava o nome. Mas, em meus braços, era sempre Lolita.

Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis – 1881


Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo principio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas, um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: a diferença radical entre este livro e o Pentateuco.

Dom Casmurro – Machado de Assis – 1889


Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé-de-mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou poara que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.
-       Continue – Disse eu acordando.
-       Já acabei – Murmurou ele.
-       São muito bonitos.
Vi-lhe fazer um gesto de tira-los outra vez do bolso, mas não passou do gesto; estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhado-me Dom Casmurro. Os vizinhos que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados deram curso à alcunha, que afinal pegou.

Ana Karenina – Leon Tolstoi – 1873/1877


Todas as famílias felizes se parecem entre si; as infelizes são infelizes cada uma à sua maneira.
Havia uma grande confusão dos Oblonski. A esposa acabava de saber das relações do marido com a preceptora francesa, e comunicar-lhe que não podiam continuar a viver juntos.

Crime e Castigo – Fiodor Dostoievski – 1868

Era um maravilhoso entardecer de julho, extraordinariamente cálido, um rapaz deixou o quarto que ocupava no sótão de um vasto edifício de cinco andares no bairro de S*** e, lentamente, com ar indeciso, se encaminhou para a ponte de K***.
Teve a felicidade, ao descer, de não encontrar a senhoria, que morava no andar inferior. A cozinha, cuja porta estava sempre escancarada, dava para as escadas. Sempre que se ausentava, via-se o moço na contingência de afrontar as baterias do inimigo, o que o fazia passar pela forte sensação de quem se evade, que o humilhava e lhe carregava o sobrecenho. Devia uma quantia considerável à locatária e receava encontra-la.
Não por covardia ou abjeção; pelo contrário. Mas havia já algum tempo que ele se encontrava num estado de excitação nervosa, vizinho da hipocondria. Isolando-se e concentrando-se conseguira não só esquivar-se da senhoria, como também de seus semelhantes.

Fausto – G. W. Goethe – 1761

Estudei com ardor tanta filosofia, Direito e Medicina, e, infelizmente até muita Teologia. A tudo investiguei com esforço e disciplina. E assim me encontro eu, qual pobre tolo, agora, tão sábio e tão instruído quanto fora outrora!
Primeiro fui assistente e em seguida Doutor, dez anos a ensinar, autêntico impostor. A subir e a descer por todos os lados. Estudantes à volta em mim sempre grudados. E chego ao fim de tudo ignorante em tudo! Coração a ferver! Para que tanto estudo! Não tenho mais saber que os tolos e doutores, nem sei mais do que os Mestres, padres e escritores. Dúvidas? Escrúpulos? De tudo já dei cabo.
Não mais me assombra o Inferno e nem mesmo o Diabo, fugiu todo o prazer da minha adolescência, não me interessa mais do Direito e a ciência, nem tampouco a tarefa árdua de ensinar, aos homens converter e tanto doutrinar.
Dinheiro não ganhei, não tenho quase haveres, nem a gloria do mundo e seus doces prazeres; por que tanto viver como se fora um cão! Apego-me à magia. É uma salvação.
Pela força do espírito e o vigor do verbo, as forças naturais, secretas e exacerbo, que com amargo esforço eu tentei revelar não conseguindo nunca a verdade alcançar. Por fim, conheço hoje, o que em todo o mundo. Existe de mais íntimo e de mais profundo. As forças criadoras, forças embrionárias, que palavras não exprimem tão tumultuárias.

A Metamorfose – Franz Kafka – 192

Quando certa manhã Gregor Samsa despertou, depois de uma noite mal dormida, achou-se em sua cama transformado em um monstruoso inseto. Esta deitado sobre a dura carapaça de suas costas, e ao levantar um pouco a cabeça viu a figura convexa de seu ventre escuro, sulcado por pronunciadas ondulações, em cuja proeminências a colcha mal podia agüentar, pois estava visivelmente a ponto de escorregar até o solo. Inúmeras patas, lamentavelmente esquálidas em comparação com a grossura comum de suas pernas, ofereciam a seus olhos o espetáculo de uma agitação sem consistência.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Livros: Leituras da Modernidade


O que é ser moderno? O que é viver na sociedade moderna? Essas perguntas fervilhavam na mente das pessoas letradas e cultas no final da Idade Média e início da modernidade. Essas, e outras dúvidas podemos encontrar claramente saltando das páginas das obras literárias produzidas durante esse período. Com um olhar apurado, e um guia em mãos as obras deixam de ser apenas uma história para se tornarem um rol de dúvidas dividas pelos autores com seus contemporâneos, a incerteza do futuro, aliado a um desejo de mudança, junto com a insatisfação com o passado fazem com que os homens e mulheres modernos olhassem para a frente, desejassem o que estava mais à frente, mas, ao mesmo tempo, sentissem vertigens pelas alturas e pela velocidade que a vida estava mudando.
            No geral, para a compreensão desse período iniciamos as atividades com a leitura da Divina Comédia, talvez o último suspiro literário do mundo medieval, passamos por questões humanas como as abordadas nas peças de Shakespeare, o autor que inventou o sentido da humanidade na modernidade, adentramos nas críticas sociais de Campanella, Morus e Erasmo, entrevendo igualmente uma forma de compreensão da melhor forma de dominar as massas, como ensinou Maquiavel.
            Nesse mundo moderno é possível encontrar pessoas distantes da realidade, fora de sintonia com as mudanças como Dom Quixote e o rei Lear, indivíduos que penam para se adaptarem aos novos costumes, que, talvez, nem sejam tão novos assim.
É na modernidade que algo, muito caro à sociedade, vai ganhar contornos mais passionais. A idéia de amor, e nada mais ilustrativo do que a obra que moldou a idéia de amor que todos carregamos conosco, desde a mais tenra infância. Romeu e Julieta, os amantes de Verona, sofrem, amam, enganam, são enganados, tudo com a intenção de poderem aproveitar o seu amor. Tudo em vão, afinal de contas, o amor puro e desinteressado não tem muito lugar na sociedade moderna, ao menos não o amor entre duas pessoas, a competição, o desejo de possuir mais, sem muitas vezes saber para que, cada vez mais se tornam companheiros mais fiéis e freqüentes da humanidade.
Esse mundo novo é que se apresenta para você em sua leitura, espero que ela seja útil e, ainda lhe ofereça a oportunidade de se enxergar em algum personagem e medir as conseqüências de suas escolhas, afinal de contas, vivemos em outra época, mas somos tão modernos como foram todos os personagens do livro que você irá ler, e, tal qual como eles, queremos apenas ser felizes e realizarmos nossos sonhos.

Divina Comédia / Inferno:
  • Qual o sentido do pecado para Dante?
  • Qual o papel de Deus na obra?
  • A vida terrena é vista como algo benéfico ou maléfico?
  • Como a vida além da morte é apresentada?
  • Qual o sentido moral existente na obra de Dante?
  • Existe alguma lição para ser aprendida pelos contemporâneos do autor na obra?

Macbeth – ação / culpa, desejo de poder a qualquer custo;
Otelo: - Inveja, mentira, avareza;
  • Qual o papel do desejo de poder na história?
  • Segundo o autor o fascínio pelo poder é inato ao ser humano ou é aprendido de seus pares?
  • A honra, valor medieval e moderno importante, é vista como algo relevante, na intimidade, pelos personagens com destaque no texto?
  • Existe alguém sensato na história ou todos são guiados pelas emoções e desejos?
  • Qual o destino daqueles que muito desejam, segundo o autor da obra?
  • O crime, a traição, são pagos, de que forma no final da história?

O príncipe:
Ricardo III:
Fausto:
  • Existe benefício para a ambição desmedida?
  • De que maneira um líder deve dirigir-se aos seus inferiores?
  • O que pode um homem?
  • O que deseja um homem?
  • Como conviver com outros seres humanos?
  • Segundo o autor, qual a melhor maneira de se conviver com seres humanos?

Utopia:
Cidade do sol:
Elogio da Loucura:
  • Qual o sentido das críticas à sociedade?
  • O que deseja o autor ao promover essa crítica?
  • Você consegue encontrar algum trecho do livro em que a sociedade moderna seja questionada? Mostre o trecho e o comente.
  • Essa sociedade fictícia, seria um sonho ou uma forma de advertir os europeus modernos a respeito dos rumos que tomavam sua sociedade?

Rei Lear:
Dom Quixote:
  • De que forma sonha o personagem principal?
  • O mundo em que esse personagem vive ainda é possível, ou mesmo um dia existiu?
  • O que diferencia esse personagem dos demais personagens do livro?
  • Qual o futuro de pessoas sonhadoras na história?
  • A racionalidade é vista com bons olhos pelo autor do livro?
  • Qual o resultado da bondade no mundo moderno?

Romeu e Julieta:
  • O que significa o casamento na peça?
  • O que significa o amor na peça?
  • Qual o valor da honra na história?
  • Existe saída para o amor na sociedade moderna?

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Livros: Literatura do Século XIX


Literatura do Século XIX

Ao se trabalhar o século XIX uma possibilidade de atividade paradidática é o trabalho com obras literárias que expliquem o período em questão sob outra ótica;a dos romancistas. Todas as leituras abordam temas comuns e caros ao século XIX, afetividade, ciência, relações sociais, individualismo, todos presentes na literatura burguesa, o que demonstra que a sociedade burguesa estava pensando muito sobre o seu cotidiano. Cabe aos alunos, encontrarem algumas dessas questões levantadas pelos burgueses, procurando mapear as respostas oferecidas pelos escritores burgueses.
É importante que tenham em mente que os escritores são mais do que observadores, na verdade não é muito incomum percebemos que os comportamentos descritos nos livros saem desses livros para tomar as ruas de assalto, os jovens burgueses, passaram a amar mais depois de lerem o “Werther” de Goethe, assim como passaram a questionar com maior atenção os rumos aos quais a ciência os estava levando depois de lerem “Frankenstein” de Mary Shelley e “O médico e o monstro” de Stevenson. Porém, mesmo moldando e sendo moldado pela literatura o burguês tinha preocupações, morais, econômicas, afetivas, entre tantas e elas apareciam em conversas, e depois eram materializadas nas páginas de um livro.
Essa atividade consistirá em identificar alguns pontos debatidos nos círculos burgueses do século XIX, para tanto, o aluno deverá ler com atenção as sugestões de observação existentes no tópico do livro escolhido por ele e, a partir dali, deverá construir um texto, argumentativo, respondendo as questões propostas assim como outras que você consiga identificar em sua leitura.

Tema: Ciência – Livros escolhidos
  • Aventuras de Sherlock Holmes – Arthur Conan Doyle
  • Contos de terror – Edgar Allan Poe
  • Frankenstein – Mary Shelley
  • O médico e o monstro – Robert Louis Stevenson

Procure identificar no livro que lhe coube alguns aspectos ligados ao pensamento científico do momento:
  • Qual o papel que o pensamento religioso exerce sobre o cotidiano dos personagens;
  • Existe algum drama moral, ou o que vale é conseguir o que se busca?
  • Qual a reação das pessoas que cercam os personagens envolvidos com a atividade exercida pelo personagem principal?
  • O sobrenatural aparece em seu livro? De que forma o “mundo sobrenatural” aparece na história?
  • Destaque o papel da ciência na história;
  • O dinheiro aparece? Em que medida ele tem influencia na vida de todos os personagens.

Tema: Relações afetivas
  • Werther – Goethe
  • O morro dos ventos uivantes – Emily Bronté

O ponto principal do livro que lhe competiu estudar nesse bimestre foi um que tem como tema o encanto afetivo no século XIX, a sua leitura deve ser orientada por algumas interpretações, suas, além de algumas indicações disponíveis nesse guia:
  • Como surge o encantamento amoroso?
  • De que maneira as pessoas ao redor do sujeito apaixonado reagem a esse encanto amoroso?
  • De que forma o sujeito apaixonado se relaciona com o objeto de seu amor?
  • Existe a possibilidade de uma satisfação afetiva aceita por todos?
  • Quais as conseqüências desse encantamento amoroso?
  • Ao seu entender, qual o partido que o autor do livro tomou ao definir pelo final do livro?

Tema: Relações sociais
  • Orgulho e preconceito – Jane Austen
  • Razão e sensibilidade – Jane Austen
  • A morte de Ivan Ilicht – Liev Tolstoi
  • Madame Bovary – Gustave Flaubert
  • Bouvard e Pechuchet – Gustave Flaubert
  • A servidão humana – W. Somerseth Maughan

O livro que lhe coube analisar tem como tema principal a ser explorado as relações sociais os pontos que você deverá discorrer devem ter como ponto de apoio:
  • Qual o papel que a sociedade exerce nos personagens do livro?
  • Como os personagens enxergam seu papel no mundo?
  • O dinheiro exerce influencia na vida dos personagens?
  • De que forma a religião se apresenta no dia a dia das pessoas?
  • A vida em sociedade é mais importante do que a vida privada?
  • Na sociedade existe lugar para afetos verdadeiros?

Tema: Individualismo
  • Pais e filhos – Ivan Turgueniev
  • O coração das trevas – Joseph Conrad
  • Confissões de um comedor de ópio – Thomas de Quincey
  • Jacques, o fatalista – Denis Diderot
  • A morte de Ivan Ilicht – Leon Tolstoi

O individualismo e suas experiências, uma das faces sociais do século XIX é o tema da leitura que cabe fazer com o livro que você escolheu, abaixo seguem algumas observações a serem feitas durante a leitura do livro:

  • Quais as características do individualismo dos personagens do livro? É benéfico para ele?
  • Em que medida o personagem se relaciona com a sociedade?
  • Existe espaço para relações afetivas no mundo do individualismo?
  • O dinheiro tem relevância em seu livro?
  • Qual a leitura do mundo que os personagens fazem?
  • Existem decepções, arrependimentos nas falas dos personagens?
  • Como enxergam a vida, futura e passada?

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Filme: A Guerra do Fogo


Filme: A guerra do fogo (La guerre Du feu) 1981. França/Canadá. Jean-Jacques Annaud. 100 min.



A guerra do fogo

Apesar de algumas incongruências, os grupos que disputam o fogo, por exemplo, um composto de humanos, no máximo neandertais, e outro uma mistura bizarra entre humanos e macacos, o filme é bastante aceitável para ilustrar os primeiros tempos da jornada do homo sapiens sobre a Terra.
É importante apresentar aos alunos alguns aspectos relevantes da narrativa. Em primeiro lugar o desconhecimento de como se faz o fogo, o grupo de neandertais age com o fogo como se este fosse algo de sobrenatural, logo evitam que o mesmo se apague. É bom ressaltar o surgimento de um pensamento abstrato, ver o fogo como algo sobrenatural é demonstrar capacidade para lidar com algo impalpável, mas que pode estar consigo.
     Gosto muito de chamar atenção dos alunos para uns momentos antes da disputa pelo fogo em que há uma relação sexual baseada antes de tudo nos instintos. Vemos claramente uma fêmea grávida e outra que quando passa atrai o olfato de um macho [faço um parêntese para lembrar aos alunos da relação entre animais, sem qualquer envolvimento afetivo, que é o que ocorre no momento é bom destacar a importância do olfato nesse período também]. Depois de sentir o olor feminino o macho sai em busca de saciar seus instintos e a luta pelo fogo inicia-se logo em seguida.
Na luta pelo fogo é bom destacar a brutalidade das ações, sem qualquer vestígio de clemência pelo adversário é uma guerra de vida ou morte. Apesar de vencedor o grupo de neandertais perde o fogo e, como não sabem fazê-lo, destacam membros do grupo para partirem em uma busca por outra chama que possa manter aquecido, protegido e bem alimentado o grupo.
Depois de uma série de aventuras em que encontram leões dente de sabre, outro grupo de neanderteais, contra o qual têm uma batalha sangrenta, nos moldes do primeiro confronto do filme, os caçadores finalmente encontram uma tribo melhor estabelecida culturalmente. Alguns aspectos nesse encontro merecem ser destacados:
·      O segundo grupo é possuidor de melhores ferramentas/ armas de guerra, enquanto que o grupo de neandertais ainda usa instrumentos de pedra lascada o que os coloca em inferioridade;
·       O segundo grupo já se comunica, o que os coloca em um estágio de organização social mais satisfatório;
·       Construíram habitações, ou seja, abandonaram as cavernas;
·       Um ponto interessante a se destacar, fazendo um paralelo com o início do filme, é a relação sexual, enquanto é mantido prisioneiro o guerreiro, de outro grupo, é “convidado” a manter relações com mulheres da tribo. Chamo atenção para o fato de que as mulheres escolhidas sejam todas gordinhas, melhor parideiras, portanto. É bom fazer uma relação com a “Vênus de Willendof”. Ainda no que se refere à relação sexual é bom destacar a posição na qual a mulher se coloca deitada sobre o chão, diferente da qual o prisioneiro neandertal está acostumado. A tribo, por conseguinte, encontrou uma forma de manter relação mais humanizada, avançando sobre os instintos. É bom destacar a coexistência dos mais variados grupos, como na imagem abaixo.

·       Por último, aprende que há como se fazer o fogo sem precisar conservá-lo sempre.
De volta à sua tribo o grupo de neandertais já domina a arte de fazer fogo, e isso vai ser preciso, há também um ganho cultural no encontro dos dois grupos, mostrado nas cenas finais em que há, no grupo de neandertais, um princípio de domínio de uma linguagem.
Listo alguns pontos para serem observados pelos alunos e, eventualmente, fazerem uma redação levando em consideração o filme visto.

Pontos para serem observados durante a exibição do filme:
·         Entenda qual a importância do fogo na Pré-História;
·         Observe como os grupos humanos se comunicam;
·         Observe a condição nômade dos grupos pré-históricos;
·         Busque compreender os diferentes estágios de adaptação diante da natureza dos diversos grupos humanos;
·         Entenda que os diferentes estágios de adaptação ao ambiente favorecem a uma melhor produção de artefatos para extrair, desse ambiente, uma melhor condição de sobrevivência.

Há alguns anos fiz alguns cortes no filme que o reduziram pela metade, isso favorece a exibição do filme, que pode ser feita em uma aula deixando tempo para discussão, visualização de algumas cenas novamente e comparação com um documentário excelente, “Homem pré-Histórico, vivendo entre feras” da Discovery. Mais a frente posto algo sobre este documentário.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Livro: O Clube do Filme


GILMOUR, David. O clube do filme. Um pai. Um filho. Três filmes por semana. [trad. Luciano Trigo] Rio de Janeiro: Intrínseca, 2009



Confesso que quando ouvi falar desse livro fiquei todo empolgado. Estava iniciando a minha experiência com filmes, de maneira mais ordenada e elaborada com adolescentes, então nesse livro eu poderia encontrar alguma orientação de como agir, sem contar que minha filha estava nascendo, e como todos os pais estava já preocupado com sua formação, o que precede e sucede à educação escolar.
A história começa quando o pai percebe que o filho, adolescente, não estava indo bem na escola, ao contrário, estava ficando cínico, mentiroso, preguiçoso, sem perspectiva de futuro alguma. Sem saber o que fazer, o pai acaba arriscando tudo, propondo ao filho que ele abandonasse a escola, por um período, mas seguido a esse abandono ambos teriam uma sessão semanal de três filmes, escolhidos pelo pai pelo tempo que durasse a ausência da escola.
ideia me pareceu muito interessante, é claro que eu não chegaria ao radicalismo de aceitar um abandono da escola. Na verdade fiquei me perguntando, como foi que a situação chegou nesse ponto. É claro que como professor mais ou menos imagino, o caminho trilhado até chegar nessa situação. Enfim, a situação estava dada, a solução, radical, encontrada, testada e relatada no livro.
Minha decepção com o livro começou quando os filmes eram apenas citados, no máximo um resumo de duas linhas sobre o enredo, eventualmente a reação do filho, comentários, bastante superficiais sobre a obra e o restante do livro um relato sobre como o pai é realmente um banana e o filho um, como diria minha mãe, bobo alegre.
É bem verdade que o livro mostra uma aproximação entre pai e filho, mas fiquei me questionando, essa aproximação é verdadeira, para usar a expressão que estou me segurando, é profunda? Vejo, na história do livro, “dois perdidos numa noite suja” andando como se fossem bêbados vendo filmes e? E não ficamos sabendo nada. A não ser que o menino consegue ser aprovado em algo que me parece ser o supletivo e fica “superfeliz” da vida. Os gritos dele me lembraram os que eu emiti quando passei no vestibular “eu consegui”. No ensino médio, nem na formatura eu fui.
Enfim, saí da leitura do livro mais decepcionado do que satisfeito, não acrescentei nada às minhas expectativas com relação ao projeto de filmes dentro da escola que estava pensando e nem no que se refere à educação paterna, que exerço hoje em dia acrescentei algo positivo, mas tenho a certeza, meus filhos jamais chegarão ao ponto de serem derrotados pela escola, por mais que ela seja ruim para tergiversarem pelo supletivo e se satisfazerem com isso como se tivessem descoberto a pólvora.
Eis uma leitura que não aconselho a ninguém.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Livro: Boêmios



FRANCK, Dan. Boêmios. [trad. Hortencia Santos Lencastre] São Paulo. Editora Planeta do Brasil, 2004


Quando pensamos na boemia raramente nos lembramos dos momentos prosaicos como o comer, dormir, viver. A imagem do boêmio como o indivíduo que leva a vida sempre em alta rotação é encantadora e, geralmente está correta. O problema é justamente o cotidiano, aquele que é indiferente ao burguês, boêmio, nobre, pobre ou miserável, como viver?
O livro de Dan Franck aborda não só o cotidiano dos escritores, pintores, poetas e escultores que viveram em Paris nas primeiras três décadas do século XX. O livro é extremamente interessante porque não esconde a vida que levavam esses boêmios, mas explica, em certa medida porque não se renderam diante de tantas dificuldades que a vida lhes impunha:
O Bateau-Lavoir [um prédio antigo em Montmartre no qual moravam um grande número desses artistas] era uma espécie de laboratório onde se trocavam idéias, pontos de vista, descobertas, tudo misturado em uma extraordinária fraternidade artística de onde o ciúme, por enquanto, e apenas nesse campo tinha sido banido. Tirando Juan Gris, mais inseguro do que os outros, todos sabiam que um dia a penúria iria derreter debaixo do sol do reconhecimento. Era só esperar por esse dia. E esperavam juntos, mostrando uns aos outros as novas obras, quadros e poemas. A escola era uma só, enriquecida por diversas linguagens. (114)

É interessante observar que Dan Franck coloca como centro desse universo boêmio Picasso, amado por todos, que desde o primeiro momento reconheceram sua genialidade o pintor espanhol sentia-se bem com a lisonja coletiva da qual era alvo. Quando a adulação não ocorria, ou via em alguém um potencial para disputar a preferência do grupo, o espanhol dava um jeito de alijar o oponente do grupo.
Aos poucos, enquanto a primeira geração, Picasso, Gris, Braque, vão enriquecendo, depois de terem inventado o cubismo, uma segunda geração vai surgir, especialmente após a Primeira Guerra Mundial, levada pelo espírito da descrença encarnado pelo Dadaísmo e Surrealismo, liderados por indivíduos como André Breton, Louis Aragon, todos bastante cientes do seu papel e, ao mesmo tempo, implacáveis com todos que se colocam em seu caminho ou ainda que ousem questionar suas escolhas.
O livro é composto de capítulos curtos, que exploram cada qual desses personagens, explicam suas vidas, suas escolhas e, em alguns casos, justificam suas mortes. Aliás, a leitura flui sempre melhor quando feita ao lado do computador, pois a cada tela, fotografia, nome citado seria interessante uma busca pela imagem para que a materialização da explicação seja mais bem digerida. Pensando bem, o único senão ao livro é a ausência de um caderno com a reprodução das figuras mais relevantes nessa história da boemia artística de Paris no início do século XX.