segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Livro: Boêmios



FRANCK, Dan. Boêmios. [trad. Hortencia Santos Lencastre] São Paulo. Editora Planeta do Brasil, 2004


Quando pensamos na boemia raramente nos lembramos dos momentos prosaicos como o comer, dormir, viver. A imagem do boêmio como o indivíduo que leva a vida sempre em alta rotação é encantadora e, geralmente está correta. O problema é justamente o cotidiano, aquele que é indiferente ao burguês, boêmio, nobre, pobre ou miserável, como viver?
O livro de Dan Franck aborda não só o cotidiano dos escritores, pintores, poetas e escultores que viveram em Paris nas primeiras três décadas do século XX. O livro é extremamente interessante porque não esconde a vida que levavam esses boêmios, mas explica, em certa medida porque não se renderam diante de tantas dificuldades que a vida lhes impunha:
O Bateau-Lavoir [um prédio antigo em Montmartre no qual moravam um grande número desses artistas] era uma espécie de laboratório onde se trocavam idéias, pontos de vista, descobertas, tudo misturado em uma extraordinária fraternidade artística de onde o ciúme, por enquanto, e apenas nesse campo tinha sido banido. Tirando Juan Gris, mais inseguro do que os outros, todos sabiam que um dia a penúria iria derreter debaixo do sol do reconhecimento. Era só esperar por esse dia. E esperavam juntos, mostrando uns aos outros as novas obras, quadros e poemas. A escola era uma só, enriquecida por diversas linguagens. (114)

É interessante observar que Dan Franck coloca como centro desse universo boêmio Picasso, amado por todos, que desde o primeiro momento reconheceram sua genialidade o pintor espanhol sentia-se bem com a lisonja coletiva da qual era alvo. Quando a adulação não ocorria, ou via em alguém um potencial para disputar a preferência do grupo, o espanhol dava um jeito de alijar o oponente do grupo.
Aos poucos, enquanto a primeira geração, Picasso, Gris, Braque, vão enriquecendo, depois de terem inventado o cubismo, uma segunda geração vai surgir, especialmente após a Primeira Guerra Mundial, levada pelo espírito da descrença encarnado pelo Dadaísmo e Surrealismo, liderados por indivíduos como André Breton, Louis Aragon, todos bastante cientes do seu papel e, ao mesmo tempo, implacáveis com todos que se colocam em seu caminho ou ainda que ousem questionar suas escolhas.
O livro é composto de capítulos curtos, que exploram cada qual desses personagens, explicam suas vidas, suas escolhas e, em alguns casos, justificam suas mortes. Aliás, a leitura flui sempre melhor quando feita ao lado do computador, pois a cada tela, fotografia, nome citado seria interessante uma busca pela imagem para que a materialização da explicação seja mais bem digerida. Pensando bem, o único senão ao livro é a ausência de um caderno com a reprodução das figuras mais relevantes nessa história da boemia artística de Paris no início do século XX.



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